Diagnósticos positivos quase triplicaram em 20 dias; manter o ciclo vacinal em dia e usar máscaras em ambientes fechados são medidas fundamentais
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein de Notícias
Após alguns meses de uma aparente tranquilidade em relação à pandemia de Covid-19, com o fim das restrições em praticamente todos os locais e do retorno às atividades, o país voltou a registrar um aumento de diagnósticos positivos de SARS-CoV-2, maior número de internações (inclusive em UTIs) e de mortes. A média móvel de casos quase triplicou em 20 dias: saltou de 14.585 casos novos em 23 de maio para 43.131 em 13 de junho. Mas afinal, estamos diante de uma quarta onda da pandemia?
“Eu não diria que estamos vivendo uma quarta onda, é difícil fazer essa afirmação. O que acontece é que a doença veio para ficar e esse vírus não vai desaparecer. Além disso, temos novas variantes surgindo o tempo inteiro e a variante ômicron, que ainda é a mais prevalente no mundo todo, tem alta transmissibilidade e boa parte dessa transmissão acontece antes dos sintomas aparecerem, o que é um problema”, explica o infectologista Alfredo Elias Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Hospital Israelita Albert Einstein.
Segundo Gilio, o cenário que vemos hoje de aumento de casos é multifatorial e não tem uma única explicação. As medidas de restrição praticamente acabaram e as atividades foram retomadas normalmente (em muitas delas sem a exigência do uso da máscara), por isso o vírus continuou se espalhando. E, apesar de boa parte da população estar vacinada, a vacinação não impede a infecção.
“Uma parcela da população está vacinada, mas a nossa cobertura vacinal ainda não é a ideal, especialmente quando falamos das doses de reforço [terceira e quarta doses]. Para falarmos em eficácia de vacinação, essa cobertura teria que ser muito alta, em torno de 90%, e estamos muito longe disso”, afirmou o infectologista. “Ainda assim, o que a vacina faz é evitar que a pessoa desenvolva um quadro mais grave da doença. Ela não tem o poder de impedir totalmente a infecção, por isso vemos muitas pessoas vacinadas que estão se contaminando, às vezes até mais de uma vez”, lembrou.
Outro fator que tem facilitado a disseminação do vírus é a aglomeração das pessoas sem usar a máscara em ambientes fechados, o que aumenta a transmissão. Gilio ressalta, no entanto, que não é possível dizer que a flexibilização sobre a exigência do uso de máscaras foi precoce já que no momento da tomada da decisão os números eram outros. “Na hora havia dados que permitiam uma decisão nesse sentido. Mas esse era um risco que existia”, afirmou.
Ainda segundo Gilio, por mais que existam medidas de restrição e de isolamentos, nunca alcançaremos o número zero em casos de Covid-19 por se tratar de uma doença respiratória de alta transmissibilidade. “Zerar os casos de Covid-19 é impossível, por mais rigorosas que sejam as medidas. É querer enxugar gelo, por isso é preciso trabalhar com bom senso”, diz.
Subnotificação, importância da vacinação e uso de máscaras
Apesar da alta do número de casos, é provável que esteja ocorrendo subnotificação dos diagnósticos positivos porque muitas pessoas estão fazendo o autoteste sem informar o resultado para as autoridades sanitárias e outras nem estão testando, por apresentarem sintomas leves. “Seguramente estamos com um número de casos muito maior do que o que estamos sabendo. Mas o número de óbitos, se formos avaliar, é relativamente pequeno. Não estamos nem perto do que já tivemos”, disse.
Todas as doenças respiratórias aumentam nos meses de outono e inverno e com o coronavírus não deve ser diferente. Neste momento, na avaliação de Gilio, a melhor forma de prevenir a infecção pelo SARS-CoV-2 é continuar estimulando a vacinação da população – especialmente das doses de reforço – e voltar a usar máscaras em ambientes fechados.
Gilio reforça ainda que a pandemia de Covid-19 ainda não estabilizou, a doença não se tornou uma endemia. “O número de casos ainda é muito alto. A doença vai continuar acontecendo”, finalizou.
Fonte: Agência Einstein
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